terça-feira, 1 de abril de 2008

"Como um Romance"

A verdade é para ser dita! Quando cheguei à escola, tive que substituir uma colega em falta - são as ASAPs. Por acaso detesto siglas, ou, se a nova terminologia (a famosa TLEBS) estivesse em vigor chamar-se-ia acrónimo, e fazer substituições para implementar o PNL (esta, sim, uma sigla) não é pêra doce. O gosto de ler não se ensina, não se impõe... Constrói-se desde os tenros anos da nossa existência. Ou nasce connosco e sobrevive-nos na morte. Lembro-me sempre das palavras de Daniel Pennac, no seu famoso livro "Como um Romance":

«O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo ""amar""... o verbo "sonhar"...
É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: "Ama-me!" "Sonha!" "Lê!" "Lê, já te disse, ordeno-te que leias!"
_Vai para o teu quarto e lê!
Resultado?
Nada.»
No entanto, as regras existem e devem ser cumpridas, mesmo que tenhamos que fazer das tripas coração. A turma, algo buliçosa, trazia os livros, só não trazia na mochila a vontade de ler! Apesar dessa falta de vontade que não se consegue registar no livro de ponto, alguns até leram e fizeram os trabalhos de uma qualquer disciplina. O Luís Silva tinha em cima da mesa "O Principezinho" de Saint-Exupéry. Peguei no livro e comecei a ler para um grupo de três rapazes. Pedi-lhes que desenhassem, enquanto lia. Não cheguei à parte em que aparece a famosa raposa, porque, pelo meio, discutimos alguns desenhos e assuntos relacionados com a história e havia toda uma turma desconhecida para controlar.
Aqui seguem dois desenhos que não sei muito bem que relação têm com o aviador que se despenhou no deserto ou com o rapazinho misterioso e o seu insistente pedido para desenhar uma ovelha. A verdade, e hoje é dia das mentiras, é que mostraram interesse pela obra. Resta a esperança de que, pelo menos o Luís Silva, sinta a vontade de continuar a ler o seu livro.


O desenho do Luís Silva


O desenho do António (ambos alunos do 7º B da Escola Básica 2º e 3º ciclos de Alcabideche)

Sónia Bártolo

1 comentário:

Raquel Costa disse...

mas que pena não podermos "mandar" ler, só mais tarde vamos ter essa mágoa de não ter aproveitado o tempo disponível. Agora, depois de "crescidos", quando não há tempo para nada, sentimos essa vontade incontrolável de parar tudo, ignorar as obrigações e ler, ler, ler... com tempo e disponibilidade para viajar nas palavras, sentir o que já outros sentiram, partilhar a magia.
"O Principezinho" é um livro que se lê uma, duas, três, quatro, mil vezes... quando somos pequeninos, um pouco maiores, já "crescidos" ou, talvez um dia mais tarde...

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