terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Karingana ua Karingana


Em Moçambique, antes de o contador de histórias contar um conto, ele pergunta:
Karingana ua Karingana? E nós respondemos: Karingana! E o conto começa...

Um Conto Tradicional Africano

Era uma vez três aldeias em África, mais propriamente em Moçambique, que eram governadas por três chefes: o Sabe Tudo, o Sabe Nada e o Se Fosse Eu.
Um dia o Sabe Tudo dirigiu-se à aldeia do Sabe Nada para trocar alimentos e encontrou-o muito triste. Perguntou-lhe o que se passava e o Sabe Nada contou-lhe que todas as semanas passava uma manada de gazelas pela sua plantação e destruía tudo.
O Sabe Tudo disse-lhe:
- Sou o Sabe Tudo e tenho poderes mágicos, por isso posso ajudar-te. Leva-me à tua plantação!
Quando lá chegaram, o Sabe Tudo lançou uns pozinhos sobre a terra, disse umas palavras, virou-se para o Sabe Nada e pediu-lhe:
- Vou-me embora, mas estarei aqui dentro de alguns dias.
Quando as gazelas passarem, vão cair mortas no chão e terás finalmente a paz nos teus campos cultivados. Promete-me que guardas para mim a maior gazela de todas. Depois passarei por aqui para a levar para a minha casa.
Assim foi. Quando as gazelas passaram caíram mortas no chão e foi uma grande festa na aldeia do Sabe Nada.
O Se Fosse Eu ouviu os sons dos tambores, as vozes e as fogueiras à noite e ficou curioso.
Resolveu ir ter com o Sabe Nada para investigar o que se tinha passado.
O Sabe Nada contou-lhe. Então o Se Fosse Eu aconselhou-o:
- Se fosse eu não dava ao Sabe Tudo a maior gazela.
Ele nunca saberá se é realmente a maior ou não. Dás-lhe uma qualquer e ficas com a maior.
O Sabe Nada assim fez. Deu ouvidos ao Se Fosse Eu e, quando o Sabe Tudo voltou à sua aldeia para receber o seu presente, entregou-lhe outra gazela que não era a maior, pois essa tinha guardado para si.
O Sabe Tudo como sabia tudo percebeu a mentira e a traição de quem tinha ajudado e, revoltado, fez com que a maldição regressasse à aldeia do Sabe Nada.
Ainda ouviu o Sabe Nada dizer:
- Foi Se Fosse Eu que me aconselhou. Desculpa!
Mas o Sabe Tudo virou-lhe as costas e perguntou:
- Se fosse eu… Por que não pensaste pela tua cabeça?
Moral da história:
Quem tudo quer tudo perde.
Quem vai na cantiga dos outros nem sempre é bem servido.

Observação:
Este conto foi contado pelo Mussá, contador de histórias da Fundação do Gil, e recontado pelo Tiago. Foram feitas algumas alterações, pois “quem conta um conto acrescenta um ponto”.

Tiago Silva
A Malta do Alcoitão

3 comentários:

Rui disse...

Belíssimo conto.
E o Tiago fez o que o que disse o Sabe Tudo - pensou por ele e acrescentou uns pontos :-)

sónia disse...

O Tiago é mesmo um Sabetudo! Digo eu que sou a sua professora, por enquanto...
Obrigada Rui pela tua participação.

Sónia

Anónimo disse...

bom comeco

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